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Nitazoxanida pode tratar a Covid-19? Veja o que é e para que serve

TEMPO DE LEITURA: 7 MINUTOS

Pesquisadores e pesquisadoras estão, constantemente, buscando novos tratamentos medicamentosos para diversas doenças. Muitas vezes, remédios que já são comercializados para algumas condições mostram potencial para outras doenças.

No começo de 2020, as pesquisas com substâncias ativas foram intensificadas devido à pandemia do Coronavírus. Em todo o mundo, tratamentos e vacinas para a infecção estão sendo testados em laboratório e, alguns, passam para a testagem em pacientes.

Entre esses medicamentos está a Nitazoxanida, que é um princípio ativo presente há cerca de 15 anos no mercado, indicado como antiparasitário de amplo espectro e posteriormente para gastroenterite viral (rotavírus e norovírus). Para as condições listadas na bula, a substâncias é uma opção eficaz e segura de tratamento.

Agora, testes e análises são feitas para avaliar os efeitos e benefícios em administrar o medicamento em pacientes com o novo coronavírus. Visando incentivar as pesquisas, a FQM Farmoquímica — indústria farmacêutica que comercializa o Annita®, medicamento referência à base de Nitazoxanida — deu apoio a pesquisadores e pesquisadoras da área de infectologia em busca do tratamento da Covid-19. 

O que é Nitazoxanida?

Nitazoxanida é a substância ativa, com ação antiparasitária de amplo espectro. Ou seja, capaz de combater diferentes parasitas, que são agentes que invadem o organismo e podem levar a patologias, como giardíase (causada por giárdia), amebíase (causada por ameba) e outras.

A substância também é aprovada para o tratamento de gastroenterites virais, causadas por Rotavírus e Norovírus,. Portanto, o medicamento é capaz de combater diferentes tipos de agentes causadores de doenças.

Conforme a bula, a nitazoxanida combate os protozoários inibindo uma enzima indispensável à vida do agente. Em relação aos vermes, acredita-se que o processo de combate seja o mesmo, embora possa haver outros mecanismos envolvidos. Já os vírus sofrem inibição da síntese de suas estruturas, o que impede que eles se multipliquem. 

A medicação conta com opções referência (Anitta®) e genéricas, sendo disponibilizada em comprimidos revestidos ou pó para suspensão, ambos para uso oral.  

A administração de tratamentos para combater parasitas é indicada, inclusive, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a entidade, cerca de 880 milhões de crianças, em todo o mundo, precisam de medicações para combater os microrganismos. 

Assim, em regiões com alta prevalência de parasitoses transmitidas pelo solo (acima de 20%), a OMS recomenda que seja feita a administração anual ou semestral de antiparasitários, de acordo com a porcentagem de pessoas afetadas.

Recentemente, devido aos estudos com a Nitazoxanida no combate ao Coronavírus, os medicamentos passaram a necessitar de receita médica especial. A mudança, orientada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi uma medida de segurança para evitar a automedicação.

De acordo com a farmacêutica Francielle Mathias, “a decisão da ANVISA de incluir o princípio ativo Nitazoxanida na portaria 344, foi muito responsável e coerente. Evita-se assim, a automedicação e o uso incorreto, já que não há evidências suficientes para a utilização desse tipo de medicamento no tratamento da COVID-19, a não ser com indicação expressa do médico.”

Nitazoxanida para o tratamento de Covid-19

Com a ampliação dos casos de coronavírus por todo o mundo, diversas pesquisas foram mobilizadas para encontrar tratamentos e vacinas. Atualmente, há diversas substâncias sendo testadas, pois apresentam potencial para combater a doença e reduzir a mortalidade.

Entre esses medicamento está a Nitazoxanida. Um dos primeiros estudos iniciados em Wuhan, na China, considerou ele e outros medicamentos como potenciais antivirais para a Covid-19.

Mas os estudos da droga para outras condições é mais longo. Há alguns anos, a Nitaxizonita vem sendo pesquisada para o tratamento de algumas doenças virais, inclusive aquelas que afetam o sistema respiratório. 

Entre publicações científicas, testes in vitro (H1N1, Ebola e SARS-Cov1) e in vivo (H1N1), a substância apresenta resultados promissores na ação antiviral. O SARS-Cov2, que é o novo coronavírus, tem uma estrutura similar ao SARS-Cov1 e compartilha alguns mecanismos de infecção celular, como receptores para entrada na célula. Por isso, acredita-se poder haver bons resultados.

Vale destacar que testes in vitroin vivo, mesmo que apresentem resultados de eficácia bastante altos, ainda não indicam que a droga é eficaz e segura para o tratamento de humanos.

Os testes in vitro são feitos em laboratório, em que a substância é injetada em células isoladas, sendo estudos bastante preliminares. Já os teste in vivo são feitos em animais, representando um importante passo na eficácia e segurança do medicamento, pois somente assim é possível considerar as diversas interações biológicas na administração da droga.

É importante destacar que ainda não há publicações sobre o uso da substância nos casos de coronavírus. Porém, foram feitos ensaios clínicos com pacientes infectados pelo vírus Influenza. Neles, o medicamento foi capaz de reduzir a duração e intensidade dos quadros de infecção. Por isso, considerando a similaridade estrutural dos vírus, acredita-se poder haver resultados promissores.

Por que é tão difícil entrar um medicamento para combater o novo coronavírus?

O motivo de ser tão complexo encontrar substâncias capazes de combater os vírus está, basicamente, no fato de que eles não têm estrutura celular — diferente de outros microrganismos, como as bactérias, por exemplo. Isso faz com que os vírus precisem invadir células para garantir a sobrevivência e se multiplicarem.

É essa estrutura que facilita a descoberta de medicamentos, pois a droga vai agir na parede celular, destruindo o microrganismo. 

Porém, como os vírus estão infiltrados na célula humana, destruí-lo faz com que, geralmente, a célula humana seja afetada também. Ou seja, o medicamento se torna tóxico ao organismo.

Portanto, é preciso que haja uma separação entre o agente infeccioso e a célula humana. Somente assim o medicamento é seguro ao uso.

Esse processo é longo e, geralmente, demorado. Então, uma forma de acelerar as pesquisas, mantendo todos os cuidados, é identificando drogas já comercializadas, mas aprovadas para outras condições. Ou seja, os estudos partem de observações e testes de laboratório sobre medicamentos já usados pela população.

Para que serve o medicamento?

Conforme a bula, a substância ativa Nitazoxanida é indicada para o tratamento das seguintes condições:

Gastroenterites virais

As gastroenterites virais são infecções ocasionadas por vírus que afetam o trato intestinal (estômago ou intestino). Quando elas são causadas por vírus dos grupos rotavírus e norovírus, a Nitazoxanida pode ser indicada para combater o agente. 

De forma geral, o quadro de gastroenterite viral causa febre, dores na região abdominal, náuseas, vômitos e diarreia. Em média, essa condição é uma das maiores causas de diarreia por condições infecciosas.

Helmintíases

Helmintíases são doenças causadas por helmintos intestinais. Eles são agentes patológicos que podem ser adquiridos por meio do contato com fezes contaminadas ou alimentos não higienizados.

A prevalência da infecção é alta, sobretudo em regiões sem saneamento básico. Entre as condições que podem ser tratadas com Nitazoxanida são as provocadas por:

  • Nematódeos;
  • Cestódeos;
  • Trematódeos, como Enterobius vermicularisAscaris lumbricoidesStrongyloides stercolarisAncylostoma duodenaleNecator americanusTrichuris trichiuraTaenia sp e Hymenolepis nana.

Amebíase

As amebas podem ser transmitidas de pessoa para pessoa, por meio da água ou alimentos contaminados. Em geral, as amebíases causam diarreia, cólicas abdominais, náuseas e sensibilidade. 

O medicamento Nitazoxanida pode ser receitado para o tratamento da diarreia por amebíase intestinal aguda ou disenteria amebiana causada pelo complexo Entamoeba histolytica/díspar.

Giardíase

A giardíase é causada pelo protozoário Giardia lamblia, que acomete o intestino delgado. As principais vias de contaminação são pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Além disso, a falta de higiene ou contato sexual com uma pessoa infectada também pode transmitir a giardíase.

Para o tratamento da diarreia causada por Giardia lamblia ou Giardia intestinalis, a Nitazoxanida pode ser receitada.

Criptosporidíase

As infecções por Cryptosporidium são chamadas de Criptosporidiose. O quadro é bem comum em crianças, e sua transmissão ocorre por meio da ingestão de alimentos ou água contaminada por fezes. O contato direto e a disseminação zoonótica também são fontes de contaminação. 

A Nitazoxanida pode ser indicada para tratamento da diarreia causada por Cryptosporidium parvum.

Outras infecções intestinais

Outras infecções intestinais podem ser tratadas com o medicamento Nitazoxanida. Em geral, os principais sintomas desencadeados são a diarreia e as dores abdominais. São elas:

  • Blastocistose: causada pelo parasita Blastocistis hominis.
  • Balantidíase: causada pelo parasita Balantidium coli;
  • Isosporíase: causada pelo parasita Isospora belli.

Como o remédio age no organismo?

Em média, a Nitazoxanida começa a agir entre 2 e 4 horas após a ingestão. Conforme a bula, em relação aos vermes, a Nitazoxanida age inibindo uma enzima fundamental para o metabolismo energético dos parasitas. Essa enzima é o piruvato ferredoxina oxidoredutase, que é indispensável para a sobrevivência de alguns microrganismos. 

Para protozoários, acredita-se que o mecanismo de inibição seja o mesmo, apesar de poder haver outros envolvidos e ainda não totalmente conhecidos. Já para o combate dos vírus, o medicamento atua inibindo a síntese da estrutura viral, o que faz com que o microrganismo não consiga se multiplicar.

Posologia e como tomar

A bula indica que a Nitazoxanida deve ser, preferencialmente, tomada junto a alimentos, pois isso garante uma elevada absorção dela. 

A orientação em relação à posologia, tempo de tratamento, bem como horários e demais cuidados devem ser orientados pelo médico ou médica responsável. Como protocolo, deve-se considerar a condição (qual infecção), idade e peso do(a) paciente.

De forma geral, o tratamento costuma ser feito por 3 dias consecutivos, conforme orientação médica. Porém, caso haja qualquer condição ou doença associada, como imunossupressão, o tempo pode ser alterado. Em todos os casos, é indispensável seguir as orientações médicas.

Vale destacar também que, apesar de a medicação estar em teste para o coronavírus, ela não deve ser tomada sem prescrição médica em casos de suspeita ou confirmação de Covid-19, sequer como forma de prevenção.

Quais os efeitos colaterais?

Assim como qualquer medicação, o uso de Nitazoxanida pode desencadear reações adversas. Conforme a bula, os quadros considerados comuns são:

  • Dor abdominal do tipo cólica;
  • Diarreia;
  • Náusea;
  • Vômito;
  • Dor de cabeça (cefaleia).

A bula ainda destaca que o tratamento com a medicação pode produzir alteração na cor de fluidos fisiológicos. Dessa forma, pode acontecer de pacientes notarem que a urina ou o esperma, por exemplo, apresentam coloração amarela esverdeada. 

No entanto, isso não tem significado clínico, sendo devido à coloração de alguns componentes da fórmula.

Outras reações também podem ocorrer, mas são consideradas incomuns. Caso qualquer manifestação sintomática seja percebida, é fundamental buscar orientação médica.

Preço e onde comprar

Os medicamentos referência (Annita) ou genéricos à base de Nitazoxanida podem ser comprados em farmácias físicas ou pesquisado em comparadores de preço online, como o Consulta Remédios.

Em média, os valores são ficam entre R$15 e R$40 reais*.

*Preço consultado em maio de 2020. Os valores podem sofrer alteração.

Precisa de receita médica?

Medicamentos à base do princípio ativo Nitazoxanida precisam de receita do tipo C1 Branca — 2 vias. No entanto, com a divulgação de que o medicamento está sendo testado para a Covid-19, a Anvisa o incluiu na lista de medicamentos controlados.

Assim, foi publicada uma resolução tornando obrigatório o registro da receita médica. Dessa forma, somente pessoas com receita médica especial, em que uma via fica retida na farmácia, podem adquirir a medicação.

Muitas pesquisas estão sendo realizadas visando encontrar tratamentos para a Covid-19. Ainda se sabe pouco sobre o vírus e sua ação no organismo, mas diariamente as pesquisas vão trazendo novos dados.

Para saber mais sobre todas as novidades do coronavírus, acompanhe o Minuto Saudável!

Fontes consultadas

  • Dra. Francielle Tatiana Mathias (CRF/PR 24612), farmacêutica generalista (CRF/PR 24612) com mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2013) e doutorado em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná (2018);
  • Nitazoxanida, Ministério da Saúde;
  • Informe diário de evidências COVID-19 N°16, Ministério da Saúde;
  • Resolução RDC 372/20, Ministério da Saúde.

AAZ Farma

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